O mundo dividiu os homens em duas classes: os bons e tolos, e os ímpios e inteligentes.
Essa falsa classificação marca grande parte da literatura dos últimos séculos, dos clássicos às tiras cômicas, de Polonius de Shakespeare, que deu ao seu filho uma série de boas, mas insípidas trivialidades morais, à personagem da revista em quadrinhos, "Capp's Li'l Abner", que nunca praticaria um ato injusto conscientemente, mas que preferiria cair de cabeça a cair de pé, porque havia mais sentimento em seus pés que em sua cabeça.
Nas Sagradas Escrituras, as coisas são completamente opostas. Ali a justiça é sempre associada à sabedoria, e o mal à estultícia. Sejam quais forem os outros fatores que podem estar presentes em um ato mau, um fator que nunca está ausente é a estultícia. Para praticar um ato injusto, em princípio, o homem tem que pensar de forma errônea; tem de exercer mau julgamento.
Se isso é verdade, o diabo é o principal estulto da criação, pois quando ele jogou toda a sua habilidade para destronar o Todo Poderoso, tornou-se culpado de um ato de julgamento tão ruim que tocou as raias da imbecilidade. Diz-se que ele tinha grande sabedoria, mas sua sabedoria deve tê-lo abandonado por ocasião de seu primeiro pecado, pois é certo que subestimou, de forma crassa, o poder de Deus, como, de modo tosco, exagerou o seu. Agora o diabo não é descrito nas Escrituras como sábio, mas apenas como astuto. Somos advertidos não contra sua sabedoria, mas contra sua astúcia, coisa muito diferente [...].
O pecado, repito, além de tudo mais que posser ser, é sempre um ato de jugalmento errado. Para cometer um pecado, o homem tem de acreditar, por algum tempo, que as coisas são diferentes do que realmente são [...].
O pecado jamais é algo de que podemos nos orgulhar. Nenhuma ação que ignore as consequências remotas é sábia, e o pecado sempre as ignora. O pecado só vê o hoje, ou, no máximo, o amanhã; nunca o depois de amanhã, o mês seguinte, o ano seguinte. A morte e o juízo são deixados de lado, como se não existissem, e o pecador acaba por se tornar um ateu prático que, por seu modod de agir, nega não somente a existência de Deus, mas também o conceito de vida após a morte [...].
A noção de que o pecador negligente é um sujeito vivo, e de que o cristão sério, apesar de bem intencionado, é um tolo imbecil completamente desligado da vida, não resiste a um bom exame [...].
É tempo de a juventude desta geração aprender que não há nenhuma esperteza em cometer delitos e nenhuma tolice na retidão. Temos de parar de negociar com o mal. Nós, os cristãos, devemos parar de pedir desculpas por nossa posição moral e começar a fazer com que nossa voz seja ouvida, ao desmascarar o pecado como o inimigo da raça humana, o que, com certeza, ele é, e ao expor a retidão e a verdadeira santidade como os únicos objetos dignos do interesse dos seres morais.
(Extraído do livro de A. W. Tozer "Homem - Habitação de Deus")